Prefácio

A literatura é como a flor do espírito de uma cidade, um símbolo e uma prova do seu nível e requinte (tradução do chinês). As artes e a literatura têm o importante papel de nos ajudar a alcançar a verdadeira libertação espiritual. Criam atmosferas que suscitam sentimentos, alteram um estado de espírito e ajudam-nos a perceber que não somos apenas seres livres e desligados, mas que vivemos uns com os outros e que fazemos parte de algo maior.

 

Desde as dinastias Ming e Qing que Macau foi frutífera em produção literária. Até meados e finais da década de 1930, as marcas da literatura na região tornaram-se cada vez mais visíveis. Na década de 1980, os escritores começaram a construir uma “imagem literária de Macau”, demonstrando que a literatura estava a ascender a um patamar de autoconsciência. Especialmente no período após o estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), a 20 de Dezembro de 1999, por tirar partido das vantagens do modelo “um país, dois sistemas” e no contexto de reforma nacional e abertura ao desenvolvimento regional, a literatura local deu um grande salto e afirmou-se ao ser reconhecida como um ramo da literatura chinesa, tornando-se assim parte de uma grande família literária, com os seus próprios traços distintos e características únicas.

 

A literatura de Macau cresce numa excelente conjuntura: os membros que compõem a sua comunidade estão em equilíbrio, os seus diversos estilos literários complementam-se e abordam uma grande variedade de géneros. Pode ser descrita como sendo tradicional, receptiva a novas ideias e localizada. Tem uma componente fusion, pois junta o presente com o passado, o oriental com o ocidental, o erudito com o popular. A união de todos estes factores dá origem à escrita de Macau. O resultado desta mistura é uma esfera literária cheia de vida e cor, espelhando uma realidade onde “a cultura chinesa é a principal, mas onde coexistem diversas outras culturas”.

 

É possível que devido a certos factores condicionantes, a literatura local ainda não tenha produzido clássicos inesquecíveis. Apesar disso, acreditamos que estas obras artísticas têm a raiz na língua, nos sentimentos, na vida e no espírito do povo de Macau. Estão repletas de bondade, empatia, paixão, tolerância e sinceridade. Todos os que têm o privilégio de se aproximar deste conjunto de obras conseguem ouvir a sua respiração e o bater do coração, conseguem apreciar a sua imaginação e esperança. Não é uma escrita glamorosa ou pretensiosa, apenas tenta ser genuína; não exibe habilidades linguísticas, apenas nos mostra uma visão poética da vida, uma representação.

 

A realidade é assim mesmo. Macau não é só consumismo, é também um lugar onde perdura a “sabedoria poética”. Apesar das pressões acrescidas causadas pelo trabalho e pelas dificuldades da própria vida a que estamos sujeitos, nasce um espírito literato capaz de expressar os seus desejos. Graças a uma coragem incansável, conseguimos transcender os limites deste mundo, criando um solo espiritual fértil, mesmo perante contextos tumultuosos e turbulentos.

 

 A criação da Casa da Literatura de Macau é uma demonstração de respeito e estima que o Governo da RAEM e o público em geral têm pela literatura local. Embora este espaço seja de reduzida dimensão, é possível “ver o todo através de uma parte”. Pretendeu-se criar um ambiente que apresenta e narra o desenvolvimento da literatura desta pequena região, criando uma plataforma de comunicação e interacção entre autores, seus pares e leitores.

 

                                                                      Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau